A crítica não é o produto de uma reação ao que lhe é exterior, mas uma ação coimplicada. Com essa proposta, podemos pensar a crítica não como uma reação à obra, mas como uma outra ação a partir da obra, ação esta que gera outra ações, principalmente quando o objetivo é produzir conhecimento sobre as obras de dança “criticadas”.

O encontro “Conversas para Dançar 1”, realizado em Fortaleza, de 13 a 16 de março, no Sobrado Dr. Jose Lourenço, alimentou-se destas inquietações e foi, nesse movimento, o ponto de partida para as ações do projeto Crítica com a Dança no ano de 2012. Foram quatro dias de conversas com a dança a partir do interesse no fazer da crítica e da escrita, com os artistas e pesquisadores colaboradores do projeto, Angela Souza (CE), Candice Didonet (BA/SP), Janaína Lobo (PI) e Marcelo Sena (PE), e o artista convidado, Daniel Pizamiglio. Na quinta-feira, 15, realizamos uma sessão pública como continuidade das discussões.

Habitamos o Sobrado Dr. José Lourenço e seu entorno como nosso local de estudo e experimentação. Cada um colocou seu olhar sensível e crítico para esse projeto que traz no próprio nome sua hipótese: “crítica com a dança”, é possível perceber e viver essa coimplicação? Estivemos atentos a isso, na medida que a conversa fluia e no movimento desse encontro presencial tão necessário em tempos de vida normatizada pelo online apenas. Na sessão, partilhamos entre nós e os presentes as primeiras impressões das conversas dançadas durante a semana.

Antes vivenciamos a ação coreográfica “Estudo da materialidade das palavras”, de Candice Didonet (BA/SP), uma das colaboradoras do projeto. Conversamos sobre as palavras escritas por ela com materiais do centro de Fortaleza, antes da sessão, nos espaços do térreo do Sobrado.

“Aqui” (pedras), “Vê” (tecido), “Conversas” (sementes vermelhas), “Antes” (folhas grandes e secas), “Ir” (fita adesiva), “Foi” (papelão), “Lá” (papel), “´Só” (sementes vermelhas) e “Vida” (páginas de revistas), esta última escrita no momento presente do encontro. Enquanto experiência de corpo, ver cada uma das palavras e também seu percurso fez-nos pensar sobre essa materialidade das palavras, que é construída não como “um decifra-me ou te devoro”, mas como relação com nossa experiência corpórea.

Cabe como necessário, então, o conhecimento do corpo que escreve a crítica para ser possível entender sua propriedade. Por isso, estivemos juntos e estaremos, nos perguntando que crítica queremos para a dança? que escrita é possível para promover transformação e, assim ser crítica?

Este projeto foi contemplado com o Prêmio Klauss Vianna de Dança 2011 / Funarte.

(fotos: Alex Hermes)

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