Durante os seis meses da pesquisa Casa, de Andréa Sales, exercitei o que venho esboçando como “acompanhamentos” no sentido de um colaborar como perceber a singularidade do encontro – o estar-com. No caso dela, definimos como “colaboração artística”.
Tais acompanhamentos são hipóteses que ganharam força durante o mestrado em dança, que finalizei em junho de 2008, e que tem gerado bons desdobramentos colaborativos: uma critica de dança preocupada com os processos – e não somente com as configurações – e com o investigar no corpo – e não somente na ponta do lápis (ou apenas dedo no teclado).
Assim, de outubro de 2009 até março de 2010, eu e Andréa construímos à distancia (pois eu estava morando em Lisboa) uma ambiência investigativa muito rica no que se refere ao mapeamento dos estados corporais na posição de cócoras. O que evidenciou a maturidade de Andréa sobre a fisicalidade do corpo e minha disposição em acompanhar processos.
Percebi também aspectos potentes relacionados ao comportamento humano nos deslocamentos culturais. Isso porque o cotidiano mostrou-se como sintomático no estar de cócoras, foco da pesquisa. Os afazeres domésticos do pai, a casa onde mora com ele, a Praça Jose de Alencar, a comunidade indígena nas proximidades de Fortaleza, um documentário sobre mulheres indígenas e o hábito de ficar de cócoras etc.
Eu mesmo me transformei nesse processo, nessa atenção ao estar acocorado. É uma posição forte, desestabiliza o corpo e, ao mesmo tempo, nos conecta à ancestralidade do ser humano. As fotos aqui publicadas são frames de uns vídeos que enviei para Andréa como experimento do que discutiíamos (via e-mail e telefone) no meu próprio corpo na forma de movimento e de dança.
A cada conversa, a cada discussão, eu testei e experenciei no meu corpo, dando uma espécie de feedback para ela. Às vezes, na forma de texto mesmo ou algum artigo que considero interessante. Outras vezes, foi um vídeo demonstração ou fotos interessantes. Construímos certa cumplicidade no questionar-se sobre as leituras, que vai desde termos novos até experiências anteriores que se transformam com novas informações e conceitos.
Logo, a participação como colaborador artístico vem transformando o modo de me relacionar com a dança que é feita no Ceará. Os espetáculos ainda me interessam, não tanto como produtos finais, mas como momentos importantes onde é possível perceber as estabilidades de um processo de pesquisa e criação em dança.
Tanto que constatei no fazer dança de Andrea as similaridades e distinções entre pesquisa artística e pesquisa acadêmica. Alguns e muitos dos procedimentos são parecidos, mas o ponto que diferencia é a forma como se desdobram as questões. Ou indo mais fundo, a sutileza da criação que, muitas vezes, passa desapercebida.
Assim, cada texto publicado no blog da pesquisa Casa é um indício de como se configura tanto a investigação artística como essa minha hipótese de acompanhamento como colaboração artística.
Partiram de constatações da própria Andréa. Ganharam potência nas conversas, nos vídeos trocados, nos emails enviados e respondidos. E, nesta fase pós demonstração de processo, são valiosos materiais que já tem certa estabilidade rumo à uma dramaturgia corporal e ao fortalecimento das escolhas futuras.
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