(Foto: Alex Hermes)
Foi em um sobrado lindo e muito agradável, o sobrado Dr. José Lourenço, que fica meio escondido entre várias lojas de tecido bem no centro de Fortaleza que nos reunimos durante 3 dias para o 1o encontro presencial do projeto Crítica com a Dança. Eu, Joubert, Candice, Marcelo e Angela, com colaboração de Daniel Pizamiglio.
Angela, circunstancialmente, esteve conosco não tão presencialmente, por motivos de saúde, mas por vídeo – que nos trouxe muitos ganchos para começar as manhãs de conversa – e em uma das manhãs, em um encontro na casa dela.
O primeiro encontro, este na capital cearense, no início de março último, foi pra gente se conhecer e pensar sobre: qual a contribuição de cada um neste projeto de crítica?
Não sou crítica de dança. Nunca escrevi para nenhum jornal. Mas, olhando para trás, escrever sobre algum espetáculo e trazer questões, a partir disso, quer seja um texto ou uma conversa, tem sido um exercício contínuo no meu cotidiano de artista no Núcleo do Dirceu, em Teresina (PI).
Mas a partir deste entendimento de artista como alguém que tem posicionamento crítico diante do mundo e que produz conhecimento sobre o que faz, conversar e se aprofundar neste assunto da crítica junto à dança interessa-me e me alimenta como artista. Este é o lugar de onde começo.
Quero começar trazendo alguns dos pontos que falamos:
1- O “peso” que ainda existe na palavra CRÍTICA, e por isso pensamos em outro termo, para aproximar mais: a escrita crítica. Exercício de escrita e de crítica. De aproximação entre crítica e obra. A escrita entendida neste contexto como uma escrita performativa. Uma escrita que conversa com a obra. Não seria uma crítica sobre (aquilo que fica em cima) um espetáculo, mas uma crítica junto com ele.
Como trabalhar a partir de um diálogo com a obra e não de uma opinião sobre esta? No último dia de encontro, durante a apresentação da Candice, lembro que falamos da obra como uma cebola, com várias camadas que vamos identificando e aprendendo a relacionar. Estas camadas podem ser o assunto, a matéria, uma música, uma imagem, uma cor…
Este projeto é também uma abertura de espaços (físicos e subjetivos) para o exercício da crítica, do diálogo, da escrita sozinha e em colaboração, do compartilhamento de idéias e divergências. Como é falar a partir do que a obra é e não de como eu gostaria que ela fosse?
2 – Quem é que critica? O próprio artista? O crítico? Será que somente o crítico que é capaz de falar sobre uma obra? E o artista, seu parceiro de profissão, pode fazer uma crítica sobre seu trabalho? Qual o peso de um artista que também é crítico de dança? Conversamos sobre a diferença de contextos entre as cidades ( e que talvez em alguns lugares como Fortaleza isso faça sentido e em São Paulo talvez não).
As conversas sobre como criticar, o que falar, como os artistas recebem uma crítica, lembraram-me uma época no Núcleo do Dirceu onde fazíamos várias mostras de processo e depois tínhamos “aula de feedback”, que não era nada mais do que olhar criticamente para a obra apresentada e falar do que ela é, do que se apresenta ali, e não do que poderia ser. Um exercício crítico, mas não escrito. Um exercício de ouvir também, de saber receber.
E sim, a escrita tem um peso diferente. Fato. Importante também lembrar de um detalhe importante,mas que ainda não é bem compreendido é que sua obra não é você. É uma colocação sua no mundo, mas não é você. Então uma crítica ao seu trabalho não é pessoal.
O projeto continua, agora com encontros via Skype e as futuras itinerâncias para assistir às obras. Ainda não escolhemos todas elas, e o critério e o porquê das escolhas também rendeu para nós muitas conversas e me deixou com o juízo rodando: escolhemos a partir da empatia? da proximidade que temos com o assunto ou artista? da importância daquele trabalho no contexto onde ele faz parte? É tudo isso junto? Cada caso é um caso?
Seguimos pensando a partir deste encontro inicial, agora deixando as questões clarearem e as reflexões acontecerem.
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