Foram 9 dias para discutir sobre crítica. Eu definiria assim a itinerância do projeto Crítica com a Dança, por São Luiz (MA), entre os dias 2 e 10 de junho de 2012.
Interessante chegar numa cidade que eu nunca tinha ido, pra um festival que eu também não conhecia, e ver espetáculos que eu nunca tinha visto. Se colocar a palavra “novidade” permeando essas experiências que tive em São Luiz, durante o Conexão Dança, pode ser uma boa definição de muitos pensamentos que tive em relação à crítica, durante esses dias.
Pelo projeto, cada um deveria escolher um espetáculo para dividir uma crítica com o Joubert Arrais (coordenador do projeto). O que escolhi foi “Travesqueens”, de Ricardo Marinelli (PR) e cocriação de Elielson Pacheco (PI) e Erivelto Viana (MA), que vi em São Luis; já o outro que sugeri no encontro de abertura foi “Leve”, do Coletivo Lugar Comum (PE), que assistimos primeiro, em Recife.
Mesmo tendo ido para ver especificamente o espetáculo “Travesqueens”, na capital maranhense, dentro da quarta edição do Conexão Dança, vi todos os espetáculos, acompanhei as discussões deste evento, e conversei bastante com os artistas, técnicos e produtores que estavam no encontro, além das conversas intensas com Joubert.
Diversos trabalhos apresentados traziam em suas questões, a relação de respeito e do espaço ao diferente em nossa vida particular e também no contexto social. E, em muitos deles, essa era a questão principal do trabalho. Isso me fez pensar a relação que o próprio artista tem com os colegas de trabalho, não apenas artistas envolvidos na criação, mas também os técnicos do teatro, produtores, jornalistas, professores, que, de uma certa forma, potencializam e, até mesmo, tornam viável e visível sua apresentação.
Foi uma indagação constante durante todo o encontro: o respeito ao espaço do outro, mesmo preservando o seu espaço particular. Como fazer coabitar o artista que apresenta e aqueles que possibilitam a sua apresentação, incluindo aí também o próprio público, já que sem público não há apresentação (há talvez um ensaio).
Em muitos discursos dos artistas (e eu me coloco também enquanto artista), colocamos em nossas sinopses e entrevistas a importância do respeito, da diminuição de qualquer tipo de discriminação e da própria arte como expressão de uma individualidade.
Mas será que esse discurso não está apenas num nível de representação? Será que no contato com técnicos, produtores, jornalistas, críticos e públicos “desabituados” à participação em apresentações de dança, não temos sido desrespeitosos?
Se num texto anterior eu falei sobre a relação entre o artista e o crítico, e de como poderíamos trabalhar essa colaboração, aqui levanto a relação da coerência entre o que se diz e o que se faz, encarando uma obra artística como uma fala do artista.
Estabelecer uma coerência entre o que o artista propõe em suas criações e o seu comportamento na sociedade, torna-se extensão de sua obra. O artista talvez esqueça de viver o que ele próprio diz acreditar, ou até mesmo acredita. O caminho entre esses dois lugares (o que é pronunciado e o que é experienciado) talvez seja um dos grandes desafios para o artista em todas as épocas.
Mas, na contemporaneidade, isso se torna ainda mais dissonante, quando não acontece. Se na maioria dos discursos, escutamos os artistas contemporâneos dizerem que o principal foco de suas investigações criativas seja tornar corpo todas aquelas questões (ou entender o próprio corpo), quando esse caminho se torna muito distante, a obra tende a perder seu poder, já que ela não está isolada do próprio modo do artista se relacionar com a sociedade em suas diversas esferas.
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