Alguns segundos de contextualização: Janeiro de 2012, saio de Fortaleza e vou morar n’outra cidade. Outra cidade que fica n’outro país. Outro país, que tem uma cultura e modos de vida bastante diferentes da Brasileira, pelo menos, a parte brasileira que me cabe no latifúndio.

Chalon sur Saône é uma cidade que fica ao leste da França, na região da Borgonha, minúscula, em poucas horas qualquer consegue, caminhando, encontrar a fronteira para a cidade vizinha. Estava indo para uma Escola de Belas Artes, EMA – Fructidor, primeira estudante brasileira, primeira e até então, única da linguagem dança.

Sair de Fortaleza para essa cidade, para essa escola, foi um desafio desde o início, no entanto, chegar em Chalon, com uma temperatura bem abaixo de zero, foi, possivelmente o que colocou meu corpo em confronto com o deslocamento que estava acontecendo, uma mudança de território, inclusive, afetivo.

Criar conexão entre o que existe de humano e o que existe de proposição em arte, foi o que me levou a criação dos vídeos “#inverno #primavera” e para que isso acontecesse me propus uma questão: o que fazer com essas estações? como viver essas temperaturas, e a nostalgia que as acompanha, quando, no meu corpo, um corpo da região do nordeste cearense, a experiência era de uma estação durante todo o ano?

A partir dessas questões, pude compartilhar, com outros estudantes da escola e colaborar com suas proposições, como, por exemplo, o video #1 da primavera, onde estou na cozinha de casa com uma cadeira, quando Maxime Jardry, questiona as cadeiras das escolas de belas artes.

Perguntamos: Devemos, estar sentados nas cadeiras? sentamos mais e realizamos menos? Somando a essas questões, trago para a cena/tela/vídeo a tentativa de diálogo e criação entre corpo, vídeo e performance. O que fazer? O que posso fazer? Como fazer?

#inverno #primavera” não é um projeto que tem a pretensão de responder essas perguntas, mas de inventar formas, de criar caminhos possíveis entre as linguagens do vídeo, do corpo e da performance.

 

Aspásia Mariana é artista da dança e da performance. Integra o Ateliê de Cinema, Corporeidade e Interatividade da École Média Art (EMA Fructidor – Chalon sur Saône – Fr). Desenvolve o projeto de pesquisa O entre a técnica e a tecnologia.

 
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