O projeto Momento Dança, vinculado a gerência de Cultura do Sesc Ceará, iniciou sua programação mensal de 2009, neste último final de semana, sábado (10) e domingo (11), prosseguindo até o último final de semana de janeiro. Uma boa oportunidade para se pensar a dança a partir de quatros solos que são distintos mas que têm coisas em comum.
São dois os motivos.
O primeiro fica por conta do encontro dos quatro artistas, Silvia Moura, Carlos Antonio, Paulo José e Marcio Medeiros, e seus solos autorais com algo de (auto)biográfico no modo de se organizar artisticamente. Os quatros solos, por conta disso, criam relações cúmplices.
Tem a ver com o que Silvia Moura definiu como “dança desabafo” em trabalhos no e com o Centro de Experimentações em Movimento, cuja relação cumplice fez-se também com Paulo José. Um desabafo que cria uma diálogo entre palavra falada e movimento, não somente no sentido de extensão, continuidade, mas de distensão, partindo do solo de Márcio, ou seja, que a palavra falada pode transformar o movimento, e vice-versa. Como também transforma o corpo, mutuamente, mais evidente com Carlos Antonio, pois revela seu poder performativo, de um fazer que já é dizer, como discorre bem a pesquisadora Jussara Setenta em seu livro-tese. Ai podemos refletir de como a palavra falada performa o corpo que dança, de uma voz autobiografada no e pelo corpo.
Já o segundo motivo de abrir o projeto com solos está justamente no “solo” como uma questão da dança. Muitos artistas optam pelo solo depois de experiência, boas ou ruins, em grupo, ou simplesmente pelo fato de o trabalho em grupo mobilizou questões no âmbito mais pessoal, dai a necessidade do desmame. Outros já iniciam sua carreira com trabalhos solos, pois suas questões já estão tão embricadas no seu corpo no sentido de investigar, fuçar, vasculhar, ponderar… Há também a questão econômica, de que é mais “barato” dançar um solo, menos custos, como também uma questão estética, de uma escolha política, ante as dificuldades de estar junto(s).
O fato é que para se dançar só é tão complexo (não no sentido de complicado, mas como algo que acontece em rede e com muitos fatores envolvidos) como o dançar em grupo. São duas configurações que tem especificidades. E no caso do solo, a questão biográfica fica mais evidente pois, diferente de estar ali dando “a cara a tapa” (como alguns infelizmente crêem), acabamos conhecendo melhor o artista e sua lógica de organização – que pode ser desde a coreografia (maior grau de estabilidade) à improvisação (maior grau de instabilidade). E ainda, o que os mobiliza: de como cada um, “sozinho” no palco, cria conexões e cumplicidade com o mundo pela dança, com a dança.
Parafraseando o refrão de uma música do Kid Abelha, veio uma boa provocaçao para a gente, que é: Ficar só, só para se dançar, ficar só, só para si dançar…
E para o Momento Dança, digo que começou bem, com o pé direito, e que prossiga bem pelo ano que se inicia.
QUATRO SOLOS PARA DANÇAR
UMBANDANGANDÃNS – De PAULO JOSÉ
DESESPERO PARA A FELICIDADE OU SE EU NÃO GOSTAR NADA DURA PARA SEMPRE – De MÁRCIO MEDEIROS
MEUS CACOS COLADOS COM CUSPE – De SILVIA MOURA com DANIEL MEDINA
ZUMNAIMA BUSHIDO – UM SER QUE DANÇA – De CARLOS ANTÔNIO DOS SANTOS
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