Encerramos aqui o primeiro momento de escritas, com foco na Mostra de Solos e Duos, do Projeto Outras Danças: Brasil, Chile, Colômbia, ação promovida pela Funarte e Secult/SecultFor/Quitanda das Artes, com direção artística de Silvia Moura..
Seguem abaixo os comentários/impressões dos trabalhos Embaraçzada, de Tatiana Valente (Fortaleza/CE); Procura-se MaLu, de Magnos Pontes e Luis Otávio Queiroz; e Tessituras, de Robsons Jacqué (São José dos Campos/SP).
Um corpo híbrido em conexões – Tatiana Valente (Residência com John Henry Gerena)
Na obra Embaraçzada, Tatiana Valente dançou com fios coloridos presos ao corpo pelo espaço do palco. A geometria criou-se pelo linhas como direções, corpo onde converge linhas de forcas, para isso, embaraçou-se. O trocadilho do nome da obra vale atenção. Embaraçada, do espanhol, significa grávida, já no português, atrapalhada, envergonhada. Mas o que isso tem a ver com o trabalho de Tatiana?
Vejamos. Tatiana é assim um corpo hibrido que tem força, fisicalidade, sensibilidade. Dá conta do que propõe na medida em que cria as tensões e os tempos com os fios ainda esticados, depois começa a rompê-los e enlinha -se neles, embaraça-se, para então libertar-se e subir pelos tecidos presos no teto do teatro.
A obra nos lembra ainda a relação corpo, dança e circo ainda pouco problematizada mas já significativa no contexto da dança em Fortaleza, do qual Tatiana vem fortalecendo.
Dois que se (a si) dançam – Luiz Otávio Queiroz e Magno Pontes (Residência com José Luis Vidal)
Uma brincadeira com ares mais sérios. Luiz Otávio e Magno Pontes propõe uma zona comum para dançarem juntos. Criam até uma persona para dar conta disso, MaLu. Poderia ser LuMa, talvez.
O que senti foi um acordo afetivo de elaborar movimento de dança no palco, a partir da história da dança de cada um. Ora estão juntos e simulam um encontro amoroso, ora sentimos mais Luis Otávio e Magno como observador, depois invertem esses papéis. São dois meninos-homens “amostrados”, no bom sentido da palavra, que é boa presença de/na cena, sentem-se bem lá, por isso, falem, uma brincadeira, eles se divertem.
Procura-se MaLu foi um dos dois únicos duos (a obra Forca é oficialmente um solo, mesmo tendo se configurado com um duo de Fabiano Veríssimo e Diogo Braga), junto com os 21 solos apresentados. Propõe uma zona comum porque, de fato, tem interesses cúmplices, não apenas como ex-colegas de curso técnico em dança, mas como jovens interpretes e criadores dançando coisas deles, autorais. Mas o que tem de sério em tudo isso, em termos de investigação artística? Algo já se faz evidente, não?
A busca do corpo por outras tessituras de dança – Robson Jacqué (Residência com John Henry Gerena)
Robson Jacqué fez de Tessituras um trabalho sensorial. Nele corpo é pintura, rascunho na parede, resíduos, indícios. Priorizou na cena a relação que desloca o corpo transformando-o, na busca por outras tessituras de dança.
De longe, para quem estava na platéia, ficou forte a imagem de um ser de outro planeta, um corpo com vestimenta ambígua. Lá no palco de fundo do palco principal, Robson percorreu o espaço com movimentação lenta e, por vezes, articulada, produzindo imagens e sombras. Que movimento de dança, então, podemos perceber nesse movimento da pintura?
O corpo pintava a parede e nessa ação ganhava cores e misturas. Pele de camaleão. Contudo, só a analogia do corpo como pincel não dá conta, precisamos ir mais fundo. Se Robson assim a quis, precisa expandir esse estético enquanto forma que se configurou em Tessituras. O próprio nome dá indícios. Que tessitura tem esse corpo que dança pela pintura?
Deixe um comentário