Este ano não participei da Mostra Rumos Dança – Itaú Cultural como jornalista e crítico de dança, realizada em São Paulo neste mês de março, como o fiz na edição passada (2006/2007). Nem mesmo como público, pois finalizo aqui em Lisboa, Portugal, a Formação Intensiva Acompanhada – FIA 2009/2010, no Centro Em Movimento – c.e.m.
Estive presente lá de outro modo, o que muito me alegrou também. Durante os últimos seis meses, fui colaborador artístico da pesquisa Casa, de Andréa Sales, ainda que à distância, e que foi apresentada no último dia 11 de março, sexta-feira, na Sala Adoniran Barbosa do Centro Cultural São Paulo.
Nessa outra presença, reli a crítica que fiz sobre a Mostra Rumos Dança de 2007 (Dança pode tudo?). Na leitura, percebi trechos importantes que permanecem pertinentes, com algumas autocríticas minhas em cada um deles, em itálico, logo mais abaixo.
Isso se nos apetecer refletir sobre a representatividade da dança cearense na edição atual, levando em conta que foram dois projetos contemplados (a outra pesquisa foi o solo Graça, de Andréa Bardawil e Maria das Graças Martins, apresentada no dia 08 de março, no Teatro Coletivo).
A saber, na edição anterior, apenas um projeto foi selecionado, Magno_pyrol, de Graco Alves (Corpo em segundo plano e Sobre loucura e poesia), com dois artistas pré-selecionados para workshop durante a mostra, Andréa Sales e Isabel Botelho. E ainda, na primeira edição do Rumos Dança (2000), Andréa Bardawil fez parte com o solo Do que se pode dizer, junto com outras Karin Virgínia (o solo Espera) e Anália Timbó / Socorro Timbó (Catu Macã – Guerra Bonita).
Até mesmo para perceber a importância de discutir, no mapeamento circunstancial proposto pelo Programa Rumos Dança, a recorrência de nomes não somente cearenses na primeira edição (2000/2001), mas também de outros estados, como Martha Soares, Gustavo Ciríaco, Wagner Schwartz e Renata Ferreira, em termos de transformação no percurso artístico. O que fortalece também a discussão sobre a dita representatividade em dança.
Eis os trechos:
Para onde está indo a dança dita contemporânea não é uma boa pergunta. Melhor refletir sobre quais questões a gente pode ver nas obras produzidas atualmente e as conseqüências políticas dessas escolhas.”
– A pergunta agora é para onde queremos/podemos ir com as nossas escolhas e, depois de feitas, assumir as consequencias politicas nelas implicadas, como, por exemplo, tratar ou não a dança como campo de conhecimento…
Nesse sentido, o evento funciona como panorama, pois amplia as possibilidades de criação, mesmo com restrições em sua abrangência nacional. É também vitrine porque dá visibilidade aos artistas e suas inquietações”.
– Não sei até que ponto um contexto-vitrine, de fato, cria visibilidade ou, pior, nos torna mais invísiveis.
Ao viabilizar projetos de ´desenvolvimento de obra`, o programa impulsiona uma produção de dança, onde cada obra representa uma forma distinta de organizar um repertório individual de idéias.”
– A questão da competitividade impulsiona sim, mas uma produção apenas de mercado, já que, para esta edição, apenas quatro pesquisas receberão apoio para montagem.
Deve-se atentar, no entanto, que tipo de conhecimento de dança é possível vir à tona ante toda essa abertura e que rede de pensamento é possível, que não é um tratamento estético meramente institucional. Senão o esforço, a longo prazo, é em vão.
– Ainda há muito que ser repensado sobre o que se diz e o que se faz.
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