Foto: Andreza Mona. Edição: Joubert Arrais
O Sambarroxé que Eu Danço não foi tanto nem tampouco o Sambarroxé que eu dancei em Itacaré, na Bahia, em abril deste ano, no Festival de Dança de lá, cidade perto da famosa Ilhéus e com um mar de muitos movimentos.
Lá dancei essa dita crítica dançada, esse experimento crítico do corpo, essa dancinha inventada.
Dancei um quase-samba, um quase-arrocha, um quase-axé, sim. Mas uma outra relação fez-se acontecimento. Houve uma interação sensível das muitas crianças que me espreitavam na frente do palco, legendando os movimentos com músicas. Olhares atentos e falas precisas enquanto eu sambarroxeava outros sambarroxés que, até então, desconhecia.
O presente intensificou-se em tensões, fissuras, quebras e ajustes. O corpo-sambarroxé saturou-se de dança para dançar ginasticando outras idéias, vontades e desapegos. Digo de novo, Sambarroxé dançou em Itacaré. Dançou para dançar e dançou para não dançar.
Como podemos pensar filosoficamente esse algo que acreditamos e, ao mesmo tempo, desacreditarmos para, ao mesmo tempo, acreditarmos de um outro modo?
Já antes de chegar, e chegando, já estava eu a dançar esse sambarroxé, em sua filosofia de vida, no aeroporto de Ilhéus. Malas de outros artistas vieram todas etiquetadas com meu nome, visto que também eram de Curitiba, trataram-nos como se fossemos do mesmo grupo. Mas não. Fui selecionado para dançar o solo, o primeiro autoral meu. São coincidências, como estas, que não são meros acasos, então, lá mesmo essa dança que se faz coletiva pelo festival já estava a acontecer.
Seguindo para o primeiro dia desse festival sensível às relações humanas-artísticas, eu já dançava à beira-mar, como bem disse para Verusya, diretora artística do festival. Movi-me ao som das águas que beiravam a pousada onde fiquei hospedado com Luciano Botelho, amigo e artista de Ipatinga, que foi lá comigo fazer assistência e confabular outras parcerias.
Dessa largada do primeiro dia, o segundo era o da apresentação. Deixei-me levar pela sutileza da cidade, transitando entre o encontro e a descoberta naquilo que já conheço do que danço como Sambarroxé e naquilo que nesse solo de muitos corpos eu ainda me desconheço e aprendo dançando.
Do frisson factual da performance vivida, os outros dias se seguiram intensos, reverberando as perguntas que alguns me fizeram diretamente e outras conversas com amigos artistas. Há algo de imprevisto em toda dança que se aproxima da vida que nos nutre diariamente de alegrias e tristezas, de insistências e desistências, de continuidades e permanências. Dançar é lidar com as restrições e insistir na relação que é acontecimento-presente.
Se as crianças que cantarolaram enquanto eu “dançarolava” esse dito sambarroxé foram “atrevidas” é porque algo reverberou nelas e em mim. Como insistir na relação discutindo a relação naquilo que ela é, sem pré-julgamentos? Foi assim que o desafio fez-se dança para ser outro sambarroxé.
Esse Sambarroxé que nasceu em 2007 em Salvador, com olhar sensível da amiga e dançarina Mara Guerrero (SP); e que renasceu na cidade de Itacaré, em 2015, pela presença instigantes dessas crianças, em especial. Não por acaso, pois cada contexto e cada momento tem sua força que se atualiza quando novamente com eles no encontramos para nos reencontrar.
A história não é mesmo linear. Tratando-se de corpo, este que se apronta a todo instante, sua história de dança é feita de movimentos e descontinuidades, um passado que se presentifica, um presente que se faz memória de um outrora agora, um futuro que já acontece quando vivemos intensificando o presente sem grandes expectativas.
Por “fim”, digo dançando investigando: “Eu danço Sambarroxé” sambarroxeou-se de seus hábitos coreográficos para dançar o ano inteiro e em qualquer lugar.
Outras informações do festival: www.festivaldedancaitacare.com.br
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